Aviso aos navegantes e ambientalistas: nossa Baleia é canina, nossa rede é a web e queremos toda fauna marinha viva e povoando os nossos mares. Baleia é uma das personagens magníficas do magnífico Vidas Secas e ao contrário dos famosos e pragmáticos Lassie, Rin Tin Tin, Rex, Beethoven da América anglo saxônica, Baleia pensa, Baleia sonha e, além do cinema, tem um capítulo só para si numa das maiores obras primas da literatura brasileira, em Vidas Secas de Graciliano Ramos. Interpretada no cinema pela querida Piaba (bela, minúscula e magrela), causou horror na sociedade protetora dos animais da França que ameaçou até desclassificar o filme de Nelson Pereira dos Santos porque acreditava que Baleia tinha sido morta de fato. Grande atriz a Piaba, que acabou sendo levada às pressas para o Festival para garantir o prêmio ao cinema brasileiro. Baleia é cinema, Baleia é literatura e por isso dá nome à nossa revista eletrônica. Estamos, finalmente, conseguindo colocar em mar aberto o segundo número da nossa Baleia na Rede. O primeiro saiu ainda em 2003 e no ano passado as coisas não andaram tão bem assim para que pudéssemos manter a periodicidade que tínhamos imaginado no seu lançamento. Em 2004 tivemos uma longa greve que complicou o nosso calendário de reuniões e nos fez carrear nossos esforços para a organização dos eventos que já estavam agendados: o seminário Os cadernos e as rosas – o pensamento dialógico de Antonio Gramsci – com Professor Giorgio Baratta, da Universidade de Roma, e o seminário África Brasil África – a influência da literatura brasileira regionalista na literatura africana moderna, com o Professor Roberto Francavilla da Universidade de Siena. Neste segunda edição, entretanto, a revista cresceu abrindo espaço para publicações outras além dos nossos ensaios resultados dos seminários do grupo de estudos de literatura e cinema. Dividimos a revista em seções e a primeira terá sempre um tema central, colocando em foco, as discussões e debates produzidos pelos membros do grupo. Neste número tratamos do filme Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos, discutindo esta obra prima que deu corpo ao espírito do Cinema Novo e à futura tese da Estética da Fome, tal como proporia Glauber Rocha pouco tempo depois. Nesta parte, os textos tratam do contexto histórico no qual o filme foi produzido, da busca estética do cineasta, da relação cidade e campo, da condição feminina, da infância, da vida de bicho, da opressão do homem pobre rural e da sua relação a natureza. Em Outros focos, temos o artigo do Professor Nello Avella, da Universidade de Roma, sobre o Filme Falado do cineasta português Manoel de Oliveira, comentando a metafórica busca pelas raízes mediterrâneas da cultura européia no corpo desta obra intrigante. Ainda nesta parte, Odirlei Dias Pereira revisita A Terra Treme de Luchino Visconti, para continuarmos navegando pelo mediterrâneo, só que então em busca da consciência política a caminho da revolução. A tragédia vem do mar à primeira vista, embora a terra orquestre a verdadeira destruição, conforme observa o articulista. Mais palavras tem o artigo de Robson dos Santos sobre a novela Vidas Secas, discutindo o sentido mundial desta diáspora sertaneja para aquela década de 40. Silvana Benevenuto retoma a obra de Alejo Carpentier, o romance O reino deste mundo, e o analisa sob a perspectiva da literatura engajada latino americana, confrontando-o com as idéias de Os Jacobinos Negros de C.R.L. James. Outras cores propõe-se a lançar olhares para as outras artes. Leonardo Gomes traz o debate entre estética e filosofia, problematizando a partir de Nietzsche relação sujeito/objeto/representação. Fátima Cabral organiza a transcrição da mesa redonda “Cultura popular no cinema, na literatura e na música: a caricatura, o riso e a sátira social” que contou com a participação da Professora Sylvia Telarolli da Faculdade de Ciências de Letras da UNESP de Araraquara – SP discutindo a literatura de Lobato, da cantora e compositora Cris Aflalo falando da música de Xerêm além de mim, Célia Tolentino, pensando a temática no cinema brasileiro. Para finalizar, Érica Maggi brinda-nos com um artigo sobre a utopia na poética da MPB dos anos 80 e 90. O nosso webmaster é Arakin Monteiro, responsável pela virtualização desta revista. Caros leitores, navegar é preciso! Esperamos artigos vossos para o próximo número. Célia Tolentino Editora/coordenadora ISSN: 1808-8473 |