O TRABALHO DOMÉSTICO REALIZADO POR ADOLESCENTES NA CIDADE DE MARÍLIA - Paulo Eduardo Angelin, Ethel Volfzon Kosminsky. Ciências Sociais – Departamento de Sociologia e Antropologia – Faculdade de Filosofia e Ciência – Unesp – Marília - pauloangelin@yahoo.com.br

O presente estudo teve como objetivo verificar a ocorrência do trabalho doméstico realizado por adolescentes no próprio domicílio ou na casa de um empregador na cidade de Marília, estado de São Paulo. A análise desenvolveu-se a partir de um confronto entre a fundamentação teórico-metodológica concernente ao tema proposto, os dados estatísticos levantados pelo IBGE sobre o trabalho doméstico efetuado por adolescentes em nível nacional e a pesquisa qualitativa, que foi realizada na cidade de Marília junto a quatro famílias que possuem filhos entre 12 e 18 anos de idade que realizam o trabalho doméstico. Constatou-se entre as famílias pertencentes às camadas populares, que o trabalho doméstico reveste-se de um conteúdo de obrigação para as jovens meninas, e para os meninos como ajuda, condicionada à vontade deles. Percebeu-se também que este trabalho está associado às condições econômicas das famílias para se configurar como trabalho remunerado ou não. Assim, se a família possui um nível de renda considerado por ela razoável para a manutenção da subsistência familiar, a filha adolescente, depois de ensinada precocemente, passa a realizar o trabalho doméstico em seu próprio ambiente familiar, sendo uma auxiliar de sua mãe, caso ela não trabalhe fora, ou a “dona de casa”, quando a mãe trabalha fora do grupo familiar. Entretanto, quando o nível de renda é muito baixo, geralmente essas jovens meninas são incentivadas a colocar em prática a experiência do trabalho doméstico em casa de outras famílias, a fim de receber um pequeno salário, contribuindo, portanto, para com a renda familiar. Em relação ao trabalho doméstico remunerado, constatou-se ainda que as jovens trabalhadoras possuem excessivas jornadas de trabalho, não recebem salários justos, poucas têm carteira assinada, possuem dificuldade em freqüentar a escola e não têm especialização no trabalho: geralmente cozinham, limpam, lavam, etc. Concluiu-se que o trabalho doméstico realizado pelas adolescentes na cidade de Marília é condicionado pela pobreza e miséria existentes no Brasil e vivenciadas pelas famílias das jovens trabalhadoras, bem como pela educação cultural e coerção moral promovidas pela sociedade e apropriadas por essas famílias pobres e miseráveis e, ainda, justificado no seio dessas famílias, pela divisão sexual do trabalho.

Bolsa: FAPESP

voltar